terça-feira, 17 de abril de 2012

Discipulado

Em tempos que se fala tanto sobre discipulado e de fato nossa igreja começa a aplicar métodos de DI (Discupulado Individual) eu gostaria de compartilhar aqui neste espaço o que Deus colocou no meu coração e eu ministrei na minha célula no dia 10 de Abril.

Em primeiro lugar, quando Jesus fala "Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações..." em Mateus 28:19 temos que entender o que significa "fazer discípulos".

Segundo o dicionário, um discípulo pode ser um estudante, um seguidor ou um aprendiz.

Quando pensamos em estudante, nos vêm à mente a ideia de ensinar passando informação, conhecimento. Mas quando analisamos os outros dois sentidos, notamos que discipular é muito mais profundo do que isto.

Um seguidor segue alguma coisa. Alguém. Mas acima de tudo, na mais pura essência, um seguidor segue uma causa. Um objetivo. Um ideal.

Algo no que acredita e que aposta todas suas energias. Algo que transcende sua própria existência e pela qual permite que alguém o ensine mais sobre o assunto, enquanto também deseja ensinar a outros sobre o que motiva sua vida.

Já aprendiz dá a ideia de alguém que está aprendendo uma função. O discipulador transmite a seus liderados direta ou indiretamente aquilo que sabe fazer, seu ministério, seu modo de servir. Ele cria oportunidades para que estes possam ajudá-lo dentro de seu trabalho no Reino e assim aprendam, no exercício do serviço cristão, a desenvolver o potencial de seu chamado individual.

A grande questão então para ser um discipulador não é "o que sei", cujo peso maior está no conhecimento, muitas vezes teórico. Mas sim "o que sou", que revela nosso caráter, o que cremos, o que de fato sabemos por experiência, o que somos em Cristo, porque e como exercemos nosso ministério.

É isto que um discipulador deve passar a seus discípulos

Sabemos que discipulado não é um assunto estranho à bíblia, ou que tenha surgido no Novo Testamento. Vemos exemplos no Velho, como por exemplo Elias e Eliseu. Contudo, é no Novo que o mesmo ganha ênfase, como método vital para a continuidade e edificação do Reino.

Cristo afirma em João 5:19 que tudo o que faz está em conformidade com o que vê (ou viu) o Pai fazer. Ou seja, mesmo sob a forma humana, Jesus testifica do que seu Pai é e faz, agindo da mesma forma. Revela assim a essência do caráter de Deus, e não apenas do conhecimento da Lei, da letra, do mero cumprimento de normas... participa daquilo que realmente é, em ação e fé.

Por sua vez, Cristo repassa isto aos seus discípulos, fazendo-os não apenas entender, ou aprender, seus mandamentos. Mas crer realmente, participar da causa e da natureza divina, fazendo com que eles também sejam parecidos com ele próprio.

E assim vemos muitos casos de discipulado que se seguem, como Barnabé e Paulo, Paulo e Timóteo, etc. Vindo nesta sequência infindável até aos dias de hoje, em que alguém nos anunciou as Boas Novas.

Sem esta disponibilidade de pregar o Evangelho e fazer discípulos a Igreja já estaria extinta.

Agora, há duas verdades muito importantes sobre o discipulado que precisam ser levantadas.

A primeira é que nem todo bom mestre garante um bom discípulo. O grande exemplo disto é a relação de Cristo e Judas.

Há alguém na bíblia que tenha sido melhor discipulador do que Jesus? Em três anos e a partir de doze (onze na verdade) pessoas estabeleceu as bases de uma mensagem que se multiplica até hoje!

Mas perdeu Judas.

Escolhido. Chamado (Lucas 6:13). Ensinado juntamente com os outros onze. Entendeu a causa. Aprendeu a função. Chegou a exercitá-la (Lucas 10:1). Tinha até uma função no meio dos doze (João 13:29). Só que resolveu trair a causa e seu líder.

Jesus falhou? Foi um mal discipulador? Não, não foi. Judas foi um mau discípulo!

A segunda verdade é que nem sempre é necessário um bom discipulador para termos um bom discípulo.

É, isto mesmo.

Vejamos o exemplo de Moisés e Josué. Quando é que vemos Moisés sentado, conversando, ensinando Josué, passando pra ele sua experiência de vida?

Ora, Moisés foi um grande homem de Deus. Ele  é basicamente para o Velho Testamento o que Cristo é para o Novo, foi um estadista sem igual na história da humanidade, uma pessoa que se relacionou com Deus de uma forma que nenhum outro depois de Adão conseguiu... mas como discipulador não foi um grande ícone.

Todavia Josué sim, foi o ícone de um bom discípulo.

Veja onde Josué estava entre Êxodo 24:13 e Êxodo 32:17. Enquanto Moisés ficou 40 dias no cume do Sinai e recebia as tábuas da Lei, Josué ficou no limite da altura que Deus estabeleceu para que ninguém ultrapasasse!


Onde estava Moisés, lá estava Josué. Ele via a causa, ele admirava a função, ele queria algo assim pra vida dele.

Não era uma questão de ter o posto de Moisés, mas sim ser como Moisés, desfrutar, participar, das mesmas coisas que ele via o seu líder experimentar.

Por isto se esforçava. Cria. Mesmo quando os outros duvidavam, ele via além. E Deus percebeu isto.

Assim, notamos que como discípulos podemos permanecer em um nível superficial, recebendo apenas instruções e conhecimento, ou podemos aprofundar este relacionamento e inclusive participar de experiências juntamente com nosso discipulador, aprendendo na prática o que ele tem para nos ensinar.

Jesus mesmo tinha três discípulos que estavam mais próximos dele. A transfiguração (Mateus 17:1-7) foi uma experiência da qual só Pedro, Tiago e João participaram.

Então, basicamente, a escolha é nossa. Como discípulos, que tipo de discípulos queremos ser?

Sermos apenas "estudantes" ou realmente abraçar a causa e aprender a função de nosso discipulador, nos dispondo a utilizarmos os talentos que Deus nos outorgou?

Se nós nos decidimos por nos deixar ensinar, temos que nos lembrar  há dois extremos que impedem um bom aprendizado. São as afirmações "isto eu já sei" e "acho que não consigo".

Ora, sempre temos o que aprender. E muitas vezes não aprendemos porque acreditamos já saber. Só que às vezes a gente "sabe errado".

A verdade é que muitas vezes temos que aprender a aprender. Nos deixarmos ser ensinados. Mudar conceitos pré-estabelecidos.

E quanto ao "não consigo", esta é uma das maiores mentiras que o inimigo coloca em nossas mentes.

Deus não chama ninguém para algo que não consiga fazer. Jesus não nos mandou fazer nada que não consigamos.

Por isto mesmo ele nos deu como ordem: "Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações..."

E aqui há algo importante! No original grego a ordem não é "ir" e sim "fazer discípulos". A conjugação verbal grega traduzida como "ide" não existe em português, por isto o verbo foi utilizado no imperativo. Só que a conjugação portuguesa mais similar seria a do infinitivo. Ficaria algo assim como "indo", ou "enquanto vão", ou ainda "enquanto estão indo".

Vemos assim que o fato de "ir" é algo normal, algo que acontece sem que tenhamos que ser mandados... andamos pelo mundo, vivemos. Mas a ordem é a que segue: "fazer discípulos".

Ora, como eu disse, Cristo não manda ninguém fazer o que não consegue. Ele sabe que todo cristão tem o suficiente para cumprir esta ordem. Porque  o mais importante não é o que sei ou o que tenho. É o que sou, o que creio. E isto sempre podemos repassar.

Assim, como discipulador, eu devo repassar minhas convicções, meu modo de me relacionar com Deus, meu caráter, meu saber e também meu conhecimento para meu discípulo; a fim de alavancar a sua jornada pessoal.

Como discipulador, eu devo prover meu discípulo de experiências e informações de modo que o ponto de partida de seu próprio desenvolvimento pessoal seja o ponto máximo da minha existência.

Assim, ele pode continuar de onde parei, do meu limite, do meu tempo de vida, e ir além. Continuar. Edificar mais e melhor aquilo sobre o qual coloquei os fundamentos.

O sonho de todo bom mestre é que seu pupilo venha a superá-lo, pois isto é sinal de que aprendeu tudo o que o mestre tinha a ensinar e desenvolveu mais em cima disto.

Ora, todo ser humano passa. A única maneira de haver uma continuidade é que haja reprodução.

Se nosso ministério, ou se nossa causa, não tiver continuidade depois que a gente se for... do que valeu todo nosso esforço?

Precisamos de pessoas que tomem o bastão e continuem a carreira. Precisamos passar adiante aquilo que já vivemos. Não existe uma vida com propósito sem esta continuidade.

Por fim, antes de concluir, quero dizer que o trabalho no Reino vale à pena. Ter uma célula, ministrar a outros, apesar de tudo, vale à pena. Se eu não acreditasse nisto, já teria fechado a minha.

Então hoje, a decisão de nos deixarmos discipular e de discipularmos... a decisão de atendermos à ordem de Cristo (não de "ir", mas de "fazer discípulos") é nossa. Qual será a nossa escolha?

Vamos de fato ser em Deus e repassar aquilo que somos?

Abraço a todos.

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