por Luiz Ulisses Bender
Quando
se vê um religioso envolvido com política (mais proeminentemente quando se
trata de um pastor) é comum que se volte ao debate sobre a relação entre
religião e política. Geralmente se afirma que não se deve misturar as duas
coisas, que preceitos religiosos não devem influenciam na legislação ou na
tomada de decisões por parte do Executivo. Que o Brasil é e deve continuar
sendo um Estado laico, isto é, não vinculado a nenhum tipo de confissão
religiosa.
Bem,
eu acredito que todo Estado deva ser laico, não se envolvendo em questões de
caráter religioso. Entretanto, algo que as pessoas costumam esquecer (ou não se
dão conta) é que os indivíduos que compõem a nação não são e nem podem (uso
"podem" no sentido de poder e também no de conseguir) ser laicos.
Ora,
é bem sabido que as diferentes correntes religiosas, em sua essência, fornecem
ao indivíduo uma espécie de filosofia de vida. A pessoa é, dessa forma,
influenciada em seu modo de pensar pelas crenças da religião que confessa.
Mas
o mesmo se dá com os não-religiosos, pois mesmo que não sustentem sua maneira
de viver em um conjunto de preceitos religiosos, ainda assim defendem um grupo
de coisas nas quais acredita ou sua própria filosofia, que sintetiza seus
valores.
Assim,
não importando qual fé o indivíduo professe (ou não professe qualquer fé), todo
ser humano tem um conjunto de valores éticos e morais, uma forma de enxergar e
interpretar o que vê. Um modo de encarar a vida, a si mesmo e o mundo à sua
volta. Enfim, uma filosofia de vida, que é a síntese de suas crenças pessoais.
Invariavelmente,
a maneira de pensar do sujeito será determinada por estes quesitos. Ele irá
levar as influências destes aspectos para onde quer que for, não podendo se
alienar deles. Pelo contrário até. Através deles definirá suas posições a
respeito de todos os temas que tiver que tomar um partido, uma decisão. Em
outras palavras, é este conjunto de valores e filosofias que determinará também
seu posicionamento na política.
Podemos
ver então, que o problema não é se o indivíduo é padre, pastor, pai-de-santo ou
ateu. De qualquer forma, pleiteará por seu conjunto de valores, pelo que
acredita no campo político. Alguns desses valores estarão fundamentados (ou
serão respaldados) por uma crença religiosa, ao passo que outros serão diametralmente
opostos a toda e qualquer preceito religioso, dependendo da maneira de pensar
do cidadão.
Dessa
forma, compreendo também que um Estado laico não é aquele que repele toda
manifestação de cunho religioso do seu âmbito político. Nem aquele que se
aliena da religiosidade do seu povo. Tampouco que coíbe expressões de fé de
seus funcionários. E nem mesmo que preconceituosamente define todo
representante de um setor confessional da sociedade como recalcado,
fundamentalista e radical. Não.
Estado
laico é aquele que não se intromete em questões religiosas. Que não privilegia
esta confissão em detrimento daquela. Que em seu seio toda e qualquer
agremiação religiosa pode se estabelecer e crescer, tendo liberdade de anunciar
suas crenças. É um Estado que sabe respeitar tanto aqueles que afirmam não crer
em Deus algum como aos que acreditam em algum tipo de Deus.
Afinal,
o Brasil, como Estado laico, precisa compreender que mais de 90% de sua
população professa algum tipo de religião. E ainda que boa parte deste
percentual não siga totalmente os preceitos da fé na qual diz acreditar, a
maior parte dos brasileiros ainda é, sem dúvida, influenciada por algum tipo de
crença religiosa e, portanto, vão se utilizar dos subsídios por ela fornecidos
no modo como pensam e interpretam a sociedade. Ou seja, na política.
Abraço
a todos.
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