1. Por que um curso de teologia seria útil para nossa igreja?
2. Qual o perfil que este curso de teologia deveria ter?
Peço o favor de ler o texto até o término, pois teço algumas considerações finais.
por Luiz Ulisses Bender
1. Por que um curso de teologia seria útil para nossa igreja?
* Evitar falsas doutrinas: a visão celular é um sistema altamente descentralizador e isto pode abrir espaço para o surgimento e a propagação de ideias que não condizem com a realidade da Palavra. Não existe como controlar totalmente o que os líderes falam em suas células. Isto se torna perigoso a partir do momento que algum desses líderes tiver uma ideia distorcida a respeito de um assunto bíblico e começar a propagar o ensino herético através de suas ministrações no grupo. O crescimento celular é um sistema excelente, mas quando células crescem de forma desordenada, o organismo (corpo) sofre com o câncer. Isto precisa ser evitado na origem do problema.
* Dar profundidade bíblica: convenhamos que são poucos os membros (mesmo líderes) que tiram tempo para estudar a bíblia, aprender por conta própria as verdades contidas na Palavra ou mesmo para ler um bom livro e se aprofundar no conhecimento das Escrituras. Abrindo uma oportunidade em forma de curso para as pessoas adquirirem este tipo de conhecimento, sob a supervisão de professores, ajudaria o desenvolvimento de quem realmente se interessa pelas coisas de Deus.
* Preparar melhor os líderes: como professor do nível 3 da Escola de Líderes tenho notado que muitos daqueles que se formam se sentem despreparados para liderar uma célula porque entendem que lhes falta conhecimento bíblico. Oferecer um curso teológico como opção a quem se interesse por aprender mais seria uma boa alternativa para que as pessoas tivessem a segurança de que poderiam evoluir em conhecimento. No livro "Sonha e ganharás o mundo" o autor fala sobre este módulo opcional pós-escola que existe em sua igreja, na Colômbia.
* Ter conhecimento do que cremos: a maior parte dos membros conhece o básico, acredita em Cristo e na atualidade dos dons do Espírito Santo. Mas o que nos diferencia de outras correntes doutrinárias é muito mais do que isto. O problema começa quando realmente a pessoa precisa expressar de alguma forma o que pensa em níveis mais profundos. Por exemplo: quantas pessoas no seio da igreja poderiam responder o que cremos sobre a pessoa de Deus, tipo, o que é trindade? Esperamos a segunda vinda de Jesus, mas quantos podem dizer o que é o arrebatamento? As pessoas precisam conhecer a doutrina que dizem confessar.
* É uma boa oportunidade: sabemos que atualmente existe nas outras igrejas, de modo geral, uma impressão muito negativa a respeito da visão celular. O fato de termos na nossa igreja uma escola teológica aberta a outras denominações e acessível também para membros de igrejas de outras cidades aproximaria mais as comunidades, facilitando a expansão do Reino de Deus, bem como passaria uma nova visão a respeito do trabalho celular para estes irmãos. Principalmente se adotado o modelo de curso em forma de núcleo, é provável que até novas possibilidades de evangelismo venham a surgir.
2. Qual o perfil que este curso de teologia deveria ter?
* Não deve ser demorado: sabemos que quanto mais demorado o curso, menor será o interesse e maior será a taxa de desistência durante o período de tempo em que ele ocorrer. A Escola de Líderes, por si só, já demanda bastante tempo dos membros e esticar o aprendizado pode ser desgastante. Assim, o curso não pode ser extenso.
* Deve ensinar o que cremos: a doutrina bíblica ensinada no curso deve ser de acordo com aquela que professamos. Nada de exageros neopentecostais, nem excesso de tradicionalismo. Algo biblicamente correto e sadio, que possa realmente dar uma boa base bíblica para os membros.
* Deve ter profundidade bíblica: deve ser realmente um curso teológico, com ênfase no ensino e em como a pessoa deve buscar o conhecimento. Não apenas um ensino dogmático e superficial, voltado apenas para a prática religiosa, sem se aprofundar nas Escrituras. Deve responder às principais questões do que cremos e ensinar a buscar as respostas para todas as demais perguntas através da Palavra.
* Não deve ser restritivo: sabemos que para manter um curso teológico existe a necessidade de haver um bom número de interessados, que sejam perseverantes. A maioria dos cursos disponíveis no mercado funciona a partir de núcleos, que precisam ter pelo menos 15 pessoas para se manter. Neste sentido é importante que o curso oferecido interesse o maior número de pessoas possíveis, inclusive de outras denominações e de igrejas de outras cidades.
* Deve ter um custo acessível: não adianta trazer o melhor curso teológico do mundo para cá se o povo não puder participar porque é muito caro. O curso precisa ter uma boa relação custo x benefício.
* Deve ter sistema presencial: não acredito que nossa igreja, como um todo, esteja preparada para aderir a algum tipo de curso à distância, no qual o aluno precise por sua própria conta ler, pesquisar e fazer trabalhos a fim de entregar dentro de um determinado prazo. A aula semanal, com a presença de um professor que possa orientar o aluno em sua jornada de aprendizado seria ainda a melhor opção.
* Deve ser compatível com a visão celular: não adianta implantar um curso que de alguma forma venha a atrapalhar o sistema de trabalho desenvolvido em nossa comunidade hoje. O curso não pode sobrecarregar os líderes, nem ensinar algo que venha a entrar em conflito com o método, e muito menos disseminar doutrinas que possam ser nocivas à unidade da igreja. Ele precisa, no mínimo, ser suficientemente adaptável para se encaixar na visão celular.
* Precisa ter um bom material didático: os livros ou apostilas do curso precisam ser de qualidade e também bem desenvolvidos para que possam servir de eventuais fontes de consulta. Mesmo depois do final do curso, eventualmente o aluno vai precisar consultar e relembrar o que aprendeu. É importante que ele encontre o que for necessário no material didático fornecido durante as aulas.
Considerações finais...
Dentro de tudo que escrevi acima, acho importante fazer algumas colocações:
* Não é alvo deste texto questionar qualquer iniciativa anterior de trazer algum curso para nossa cidade. A este respeito, tão somente acredito que talvez não fosse a hora, ou talvez o curso não se encaixasse no perfil pretendido, enfim. Só espero que eventuais frustrações anteriores não venham estar impedindo que, na hora certa, uma nova iniciativa seja tomada.
* Estou inclinado a crer que em nossa igreja teríamos talentos suficientes para iniciar um projeto que pudesse, a médio prazo, se transformar em um curso teológico próprio e adaptado à nossa realidade local. Entretanto, não quero subestimar o tempo, esforço e o nível de conhecimento que isto iria demandar. Certamente uma ação neste sentido teria que ser bem planejada, realizada com paciência e calma, bem como estar aberta aos novos talentos que com certeza Deus ainda enviaria para complementar o trabalho. Na conjuntura atual, contudo, entendo que seria mais fácil e prático trazer algo de fora do que desenvolver todo o material a partir do zero.
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