Quando meus pais se converteram, lá pelos meados dos anos 70, um crente declarar-se publicamente torcedor de um time de futebol era motivo de escândalo.
Nos anos 80, 90, isto não mudou muito, mas foi amenizando aos poucos. O pensamento já não era mais tão ortodoxo no sentido de não poder gostar (e torcer) por um ou outro clube, mas a coisa ainda era meio contida, não raras vezes despertando uma certa dose de culpa.
A questão central deste pensamento do crente estar proibido de amar um time de futebol reside no (possível) pecado de idolatria. Afinal, qualquer coisa que se ame mais que Deus torna-se um ídolo, que ocupa o centro de nossa vida... Idolatria.
E convenhamos. Futebol desperta paixão. Mais que interesse. Amor pelo clube. Nos aproxima de quem tem o mesmo sentimento. Ao mesmo tempo que desperta sentimentos negativos pelo rival. Detestamos quando ele se dá bem, comemoramos seus fracassos. Uma pessoa torcer para o time rival do nosso (no fundo, no fundo) nos separa dela sob algum aspecto.
Mas o século XX passou e hoje em dia já não vemos mais esta questão com os mesmos olhos.
Qualquer cristão está livre para ir ao cinema (!!!), torcer pro time do coração, e até ir ao estádio, para assistir (na real, apoiar) o seu clube preferido.
Nesta nova realidade a fronteira entre o que é apenas mais um amor e o que passa a ser exagero (idolatria) torna-se muito abstrata, e difícil de ser delineada, dada a paixão envolvida nos confrontos futebolísticos.
Em minha humilde opinião, não há nada de errado em alguém expressar sua preferência por um clube de futebol. Eu mesmo expresso a minha, e quando este consquista um título, seria hipocrisia dizer que não fico feliz.
Mas acredito que o bom senso e a ética nos recomendam que tenhamos limites, especialmente no que se refere à vida em comunidade, na Igreja, quando vamos ao culto, no trato com nossos irmãos que podem não compartilhar do mesmo ponto-de-vista que nós.
Não creio ser uma atitude correta ficar "tirando sarro", gozando, outros quando nosso time está bem ou o deles perdeu um jogo importante.
Isto não cria comunhão, pelo contrário, divide. Divide o que deveria ser um Corpo. Atrapalha a unidade que a Igreja deve ter, incitando sentimentos de rivalidade e geralmente rancor.
Claro que há brincadeiras, e brincadeiras. Mas me refiro àquele tipo mais pernicioso, que humilha, que descaracteriza, que irrita.
Acredito também que a igreja não é o lugar certo para se usar uma camiseta de um time de futebol. Isto pode soar antiquado, mas a minha linha de raciocínio é a mesma.
Quando alguém usa uma camisa do Inter, isto faz com que outros colorados se aproximem dele, talvez não fisicamente, mas eles sabem que têm algo em comum, compartilham da mesma alegria, do mesmo sofrimento. Já um torcedor gremista logo já saberá que há algo entre eles que os diferencia.
Esta dinâmica se dá principalmente depois de jogos importantes, quando a rivalidade é potencializada.
No último final de semana, minha filha quis ir ao culto usando um colar com o símbolo do nosso time do coração, pois este havia conquistado um título. Não deixei. Por quê? Ora, pergunto, por que deixaria? No que isto acrescentaria? Não causaria mais polêmica do que bênção?
Então, se podemos evitar, porque trazer à tona coisas que podem nos separar como Igreja? Pois deveria ser justamente o contrário que deveríamos estar vivendo!
Façamos coisas para manter a unidade. Para gerar a unidade.
Não é errado termos preferências, mas é errado não usarmos de sabedoria para lidar com elas.
Abraço a todos.
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