Alguns amigos meus têm comentado comigo sobre o assunto de guardar ou não o dia de sábado, e achei por bem colocar no papel (digo, virtualmente) o que tenho compartilhado em conversas.
Antes de mais nada, quero reafirmar meu profundo respeito e admiração pelos Adventistas, que são os mais entusiastas defensores desta doutrina que eu conheço. Acredito que temos muito a aprender com eles, sua organização, sua excelência no que fazem para Deus, e sua dedicação em cumprir aquilo no que acreditam.
Mas, indo ao ponto...
Esta questão do sábado por muito tempo me causou dúvidas. Afinal, o sábado foi instituído pelo próprio Deus através dos dez mandamentos, que são diretamente a base para tudo aquilo que consideramos certo ou errado. Em outras palavras, pecado ou não.
Contudo, um dia aprendi sobre o assunto das dispensações e alianças bíblicas. Entendi então que Deus tem se revelado à humanidade de forma progressiva, e cada nível de relacionamento entre o ser humano e o divino exige o estabelecimento de novas atitudes por parte de ambos.
Isto se torna mais fácil entender se comparamos o modo como Deus se dá a conhecer ao homem ao relacionamento entre um casal.
Primeiro, se conhecem só de vista (ou de ouvir falar), até que há o primeiro contato. Neste nível de relacionamento não existe qualquer tipo de intimidade. A busca ali é por criar meios de melhorar esta dinâmica, criar uma amizade, dentro da qual de fato um começa a conhecer o outro.
Mas mesmo por mais amigos que sejamos de alguém, não o conhecemos o suficiente. No caso do nosso casal hipotético, eles partem para um nível mais profundo de relacionamento: o namoro.
Ora, o namoro tem suas regras e seus direitos. São diferentes das regras e direitos de uma pura e simples amizade... e são diferentes também de um casamento. Os limites do namoro são claros, mas também há liberdades que no caso do compromisso do matrimônio, desaparecerão.
Quando o casal finalmente chega ao casamento, atingem o nível mais profundo e íntimo de relacionamento. As regras do compromisso lhe dão direitos e deveres que não existiam antes. Mesmo que o namoro foi um tempo de conhecer melhor o parceiro, nada se compara a vivenciar o dia-a-dia da vida a dois.
Pois da mesma forma Deus fez com a humanidade caída no pecado. Se revelou aos patriarcas, a Israel, e ao mundo todo através do que chamamos de Igreja.
Em cada um destes níveis Ele concedeu promessas e direitos... mas também fez exigências.
O sábado é uma exigência feita a Israel. Faz parte da aliança que foi feita com eles. De fato, todos dez mandamentos são integrantes do Velho Testamento.
Mas a Igreja não vive sob o Velho Testamento. A Igreja tem suas regras e promessas fundamentadas no Novo Testamento. A não ser que você seja um judeu de nascença, você não participa das promessas e obrigações estabelecidas à nação israelita.
Isto fica muito evidente quando o apóstolo Paulo faz a analogia do pajem (ou aia, para entender melhor na nossa cultura) que significa a Lei e o noivo, ou seja, Cristo, em Gálatas 3:24 e 25. E outra vez, o apóstolo usa o exemplo do tutor e dos filhos de Abraão (Ismael e Isaque) no capíto 4 do mesmo livro.
Aliás, todo aquele que acredita que a guarda do sábado é obrigatório, não deve ter tido a oportunidade de ler Gálatas ainda.
"Mas agora, conhecendo a Deus, ou, antes, sendo conhecidos por Deus, como tornais outra vez a esses rudimentos fracos e pobres, aos quais de novo quereis servir? Guardais dias (outra versão diz literalmente "sábados"), e meses, e tempos, e anos. Receio de vós, que não haja trabalhado em vão para convosco." Gálatas 4:9-11.
Aliás, este tema de pessoas tentando impôr costumes da Lei judaica à Igreja é um assunto recorrente em várias das epístolas paulinas. Romanos, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses... todos têm textos exortando à Igreja a não aceitar estes costumes.
Destaco Colossenses 2:16 e 17: "Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados, Que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo."
Sinceramente, com tantos livros bíblicos inteiros falando sobre esta questão, me admiro ainda que alguém possa defender esta prática!
Porém, é verdade que o problema da judaização já foi um assunto que os apóstolos tiveram que tratar no início da Igreja, no primeiro concílio realizado em Jerusalém.
Os pais da Igreja estavam frente a uma questão muito grave. Muitos gentios (pessoas que não são judias, tipo eu, você e seu vizinho) estavam se convertendo à fé em Cristo. Como lidar com este povo todo que não conhecia os custumes, a cultura e a Lei judaica? Até que ponto eles deveriam obedecer à Lei, até que ponto continuariam vivendo sob sua própria lei?
O Espírito Santo resolveu esta questão, e a decisão dos apóstolos, que é aplicável a toda Igreja universal está registrada em Atos 15:28 e 29, que diz o seguinte: "Na verdade pareceu bem ao Espírito Santo e a nós, não vos impor mais encargo algum, senão estas coisas necessárias: Que vos abstenhais das coisas sacrificadas aos ídolos, e do sangue, e da carne sufocada, e da prostituição, das quais coisas bem fazeis se vos guardardes. Bem vos vá."
Estas são todas as normas da aliança do Sinai que se aplicam à Igreja!
De fato, se pesquisarmos em todo o Novo Testamento não encontraremos um único versículo que ordene à Igreja guardar um dia santo!
Dos dez mandamentos, nove estão diretamente repetidos nos livros do Novo Testamento. São ordenados à Igreja, diretamente. O único que não é repetido é o sábado!
Porém, ainda pelo contrário (como nos textos que citei acima) a guarda deste dia não é nem ao menos encorajada! Ora, isto deve ter algum motivo!
O apóstolo Paulo chega ao ponto de dizer o seguinte em Gálatas 1:8 e 9: "Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema. Assim, como já vo-lo dissemos, agora de novo também vo-lo digo. Se alguém vos anunciar outro evangelho além do que já recebestes, seja anátema."
Já falei e insisto: o assunto do apóstolo aos Gálatas é que havia judeus tentando impôr seus costumes aos gentios, e Paulo foi enfático: o Evangelho já havia sido anunciado, e este tipo de coisa só acrescentava fardo ao mesmo. Não era isto que estava ordenado à Igreja.
E você sabe o significado de "anátema"? Palavrinha interessante que o autor da epístola usa!
Agora, sei que alguém poderá citar Mateus 5:17 e 18. Mas a aparente contradição aqui é apenas isto: "aparente".
Jesus Cristo de fato cumpriu toda a Lei e os profetas. Ao morrer, ele tornou-se maldição por nós, e quando aceitamos seu sacrifício através da fé, ocorre a justificação.
É como se tivéssemos morrido ali, com Ele, pois Cristo morreu em nosso lugar.
Logo, Cristo vive em nós. Não somos mais nós que vivemos, estamos mortos para a Lei. Cristo é que vive, e Ele cumpriu a Lei, e por isto ela já não tem mais efeito sobre nós. Vide Gálatas 2:19-21.
Ora, se não estamos debaixo do jugo da Lei, que nova lei é esta a que estamos sujeitos?
À Nova Aliança, posterior à morte e ressurreição de Jesus, que ocorreu obviamente depois dele já ter cumprido a Lei e todos pré-requisitos para se tornar o Herdeiro do Velho Testamento.
Agora, como legítimo herdeiro, Ele pôde instituir um Novo Testamento, uma Nova Aliança, que é tipificada no ato da Ceia instituída pelo próprio Messias a fim de celebrar um novo pacto, uma nova maneira de Deus se relacionar com o ser humano, uma forma onde os mandamentos do método antigo já não se aplicam mais.
Onde temos novas promessas e novas regras. Um novo modo de relacionarmo-nos com Deus, mais profundo, íntimo e direto. Como diz em Hebreus 9:15: "E por isso é Mediador de um novo testamento, para que, intervindo a morte para remissão das transgressões que havia debaixo do primeiro testamento, os chamados recebam a promessa da herança eterna."
Assim sendo, creio que quem deseja guardar o sábado... que guarde. Mas não é uma obrigação à Igreja de Cristo.
Espero que este pequeno e simples texto tenha ajudado você a entender um pouco mais sobre o assunto.
Abraço a todos.
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