por LUIZ
ULISSES BENDER
Texto-base: João 15.1 e 2
1 "Eu sou a videira
verdadeira, e meu Pai é o agricultor.
2 Todo ramo que, estando em
mim, não dá fruto, ele corta; e todo que dá fruto ele poda, para que dê mais
fruto ainda."
Introdução:
Estamos diante
de uma passagem bastante conhecida, pois se trata da parte de um texto bastante
familiar à maioria dos cristãos; a parábola da videira verdadeira. Entretanto,
apesar de ser tão comumente explorada, a passagem faz parte de um conjunto
muito importante de discursos de Jesus, que se estende do capítulo 13 até o
capítulo 17. São suas últimas palavras e instruções a seus discípulos,
declaradas antes da crucificação, ao final da última ceia.
Bem, sei que
muitos usam esse texto para falar sobre evangelismo, relacionando o fruto da
videira à multiplicação dos crentes, a ganhar almas, a fazer discípulos.
Contudo, não penso que era essa a intenção do Mestre ao proferir a parábola.
Acredito que esse fruto é algo muito mais profundo do que simplesmente o
resultado do evangelismo. O evangelismo faz parte, claro – como veremos ainda –
mas o fruto aqui é realmente o resultado orgânico (natural) de uma pessoa que
está ligada a Deus em Jesus; ou seja, o fruto é o sinal, a marca, o resultado
do verdadeiro cristão. Toda árvore produz frutos de acordo com sua espécie.
Pois o cristão genuíno, verdadeiro, também produz um fruto que, em última
análise, evidencia e prova que ele é, de fato, um seguidor do Senhor Jesus
Cristo.
Entendo que o
fruto que prova que uma pessoa é um cristão verdadeiro se manifesta sob 5
aspectos: vida espiritual, santidade, integridade, serviço e amor. Vejamos cada
um deles separadamente.
1. Vida espiritual:
A Bíblia nos
mostra que antes de entregar sua vida a Cristo todos os cristãos estavam mortos
em suas transgressões e pecados (Efésios 2.1), isto é, todos estavam desligados
de Deus. Todavia, a partir do momento em que a pessoa aceita a Jesus como seu
salvador, uma mudança ocorre. Acontece a regeneração, o novo nascimento. Agora
o indivíduo não está mais desligado de Deus, não está mais afastado do Criador,
não está mais morto espiritualmente. A vida espiritual flui até o espírito do
cristão através da ação do Espírito Santo.
Se isso é
verdade – e deve ser – o cristão não apenas tem o privilégio de conversar com o
Pai, mas precisa também sentir a necessidade de ter contato com ele. O cristão
precisa cultivar uma vida espiritual, com oração, leitura da Palavra,
meditação. Precisa colocar aos pés de Cristo suas preocupações e ansiedades,
confiando que ele fará o que for melhor. Precisa adorar ao Senhor, ser grato
por aquilo que recebeu e, acima de tudo, ser agradecido pela salvação
providenciada por Deus.
O cristão tem
que ouvir a voz do Espírito, que é o seu guia durante a jornada nesta terra. O
Espírito Santo é a garantia da herança do cristão (2 Coríntios 5.5), é ele quem
produz no cristão o fruto do Espírito (sobre o qual falaremos mais tarde), é
ele que muda a forma como o cristão percebe a vida, como organiza seus valores.
É a ação dele na vida do crente que o leva a um processo, que é o próximo
aspecto a tratar...
2. Santidade:
Santidade é um
processo. Ela não ocorre de modo instantâneo na vida do convertido, como em um
passe de mágica. O processo de santidade se inicia na conversão e segue com o
cristão durante toda a sua vida. Jamais alguém poderá atingir a perfeição,
porém a cada dia o Espírito pode revelar ao crente algo que precisa e deve
melhorar em sua vida.
Mas o que é
santidade? Quando olhamos para a Bíblia, vemos que tanto no AT quanto no NT o
conceito de santidade está vinculado à ideia de exclusividade. Exclusividade no
grupo, e exclusividade no serviço. Em outras palavras, algo ou alguém era
separado, escolhido, dentre um grupo enorme de semelhantes para ser aquele que
seria apto para o serviço e dedicado a Deus. Este algo/alguém, uma vez separado
dos seus pares, seria também dedicado unicamente ao serviço a Deus, não podendo
ser utilizado para outra coisa.
Trabalhando um
pouco esse conceito, podemos chegar à conclusão de que a santidade, na vida do
crente, se apresenta na forma de que ele se afasta das coisas que o mundo tem a
oferecer. O cristão evita tudo aquilo que pode levá-lo a pecar, a desobedecer a
Deus, ao mesmo tempo que se dedica ao Senhor, através de ações práticas, que
veremos a seguir. Santidade é, portanto, afastar-se do mal (1 Pedro 3.11), é
evitar doa a aparência (forma) de mal (1 Tessalonicenses 5.22), é ocupar sua
mente com aquilo que é agradável ao Senhor (Filipenses 4.8).
O assunto fica
sério quando vemos o quanto a Bíblia enfatiza a necessidade de santidade, pois
sem ela ninguém verá a Deus (Hebreus 12.14). Uma ideia errada, no entanto,
precisa ser combatida. Santidade não é se isolar do mundo, fundando uma
comunidade no meio do deserto para viver o Cristianismo. Não. Também não é se
achar melhor do que os pecadores. Tampouco. Santidade é estar no mundo,
inserido nele, mas não pertencer a ele, não desejar as suas coisas (João
17.11-16; 1 João 2.15 e 16). O cristão habita no meio da sociedade corrupta,
mas não compartilha seus valores, não se amolda à sua conduta, à sua forma de
pensar. Pelo contrário, pois a santidade é produzida através da ação do
Espírito Santo que renova a mente do cristão, lhe dando uma maneira totalmente
nova de interpretar a vida (Romanos 12.2), o que leva o genuíno cristão a ter
uma conduta diferenciada, que é o terceiro aspecto do fruto...
3. Integridade:
Sejamos
sinceros: o cristão é conhecido por sua conduta. Estamos falando de um fruto,
então vamos pensar em quando vamos ao mercado para comprar uma fruta qualquer.
Ao nos depararmos com todas aquelas opções na bandeja, nós escolhemos o fruto
que mais nos agrada. Seja pela forma, pela textura, pela cor, enfim... há algo
que diferencia um dos elementos do grupo, e por isso pegamos ele da prateleira
e colocamos no nosso carrinho de compras. Bem, a integridade do cristão é o
elemento (ou o aspecto) determinante pelo qual as pessoas que ainda não
conhecem Jesus irão nos avaliar, e comprar ou não aquilo que pregamos. A
maneira que o cristão age no meio da sociedade tem que estar em harmonia com
aquilo que ele crê e prega. Se há um descompasso, a mensagem e a fé do
indivíduo são desacreditadas.
Quem leva o
crente à maneira correta de viver é o Espírito Santo. É ele quem produz o fruto
do Espírito (Gálatas 5.22 e 23), é ele quem muda a pessoa internamente. Mudando
quem somos, muda o que fazemos. Mudando o que alguém pensa (algo interno,
muitas vezes oculto), o Espírito produz uma mudança externa e visível, nas
ações e comportamento diário.
A Bíblia é
muito clara quando fala das atitudes esperadas de um cristão. Jesus diz que
aquele que o ama obedece a seus mandamentos (João 14.15 e 21), Paulo, em carta
aos Coríntios, afirma que os cristãos são os embaixadores de Cristo (2
Coríntios 5.20). Ora, o que é um embaixador a não ser um representante do Reino
ao qual pertence? Ele vive de acordo com as leis do Reino de Deus, de acordo
com a vontade de seu Rei, com integridade, e não de acordo com o padrão da
sociedade que o cerca. Outros apóstolos também exploram o tema, como Tiago, que
afirma que a fé sem obras é morta, inútil (Tiago 2.17). O que são estas obras?
São ações tomadas de acordo com aquilo que o cristão acredita. Harmonia entre
crer, pregar e fazer.
Vivemos em uma
geração onde muitos se dizem cristãos, mas negam o efeito de suas declarações.
Colocam faixas “100% Jesus” e usam camisetas “gospel”, mas em sua conduta envergonham
àquele que chamam “Senhor”. Há muito mais membros de nossas igrejas do que
gostaríamos que são conhecidos no meio da sociedade como maus pagadores,
pessoas que consomem pirataria, indivíduos que tem a tal da Skygato, etc. E os
tais fazem essas coisas porque todo mundo faz. O problema é que o cristão não é
“todo mundo”, pelo contrário. Está mais do que na hora do Cristianismo rever
seus conceitos e voltar a ter uma vida pautada pela Bíblia. O verdadeiro
cristão tem essa vida. Não uma vida de legalismo, de simples cumprimento de
normas, porém uma vida que é voltada para honrar àquele que o salvou, onde não
é mais ele próprio quem vive, mas sim Cristo, que vive nele e através dele
(Gálatas 2.20) no meio de uma sociedade perversa e corrompida.
Contudo, é
importante lembrar que a atitude do cristão não é apenas voltada ao mundo. As
atitudes do verdadeiro e genuíno discípulo de Jesus são também compostas por
ações práticas em favor do Reino, o que nos leva ao próximo aspecto...
4. Serviço:
Enquanto a santidade
tem a ver com aquilo que o cristão não deve fazer e a integridade tem a ver com
a conduta do cristão perante a sociedade, o aspecto do serviço no fruto do
verdadeiro Cristianismo está relacionado com as ações que o crente deve ter em
relação a seus irmãos na fé e ao Reino em si.
Sabemos que
todo o cristão foi incluído na Grande Comissão de evangelizar o mundo (Mateus
28.19 e 20), bem como a todos os que creem foi dada a promessa de receber os
dons do Espírito Santo, a capacidade de orar pelos enfermos e eles serem
curados, a responsabilidade de anunciar o Evangelho e fazer discípulos (Marcos
16.15-18), etc. Contudo, o chamado de Deus ao cristão não se resume em mandados
gerais e promessas genéricas. Por mais que isto tenha virado um chavão, ainda é
verdade: Deus tem um propósito, um plano, na vida de cada crente. Nenhum
cristão foi chamado para ser apenas um membro de banco.
Deus dá
talentos aos homens. Deus distribui dons e ministérios à sua Igreja (Efésios
4.11). Alguns pregam com ousadia, outros administram a igreja, alguns socorrem
os aflitos e carentes, outros contribuem financeiramente (Romanos 12.6), alguns
servem às mesas – vide os diáconos de Atos 6.12 – e assim por diante... O
corpo, que é a Igreja, cresce pela ação dos seus diversos membros (1 Coríntios
12), cada um fazendo sua parte para o bem do próximo, para o bem geral. Um
ministrando ao outro, um edificando ao outro, em constante troca, em constante
auxílio e em comunhão. A todos seus filhos Deus deu sementes que precisam ser
semeadas para produzir uma Igreja saudável, para haver continuidade nos
trabalhos, nos ministérios e no crescimento do Reino. A ação positiva, prática,
interna é tão vital quanto qualquer outro aspecto do fruto. O cristão precisa
estar à disposição do seu Senhor, seguindo o exemplo do próprio Mestre, que não
veio para ser servido, mas para servir (Mateus 20.28). Todavia, todas essas
três ações – santidade, integridade e serviço – do cristão têm um fundamento,
uma característica que permeia todo o fruto do verdadeiro Cristianismo, que ao
mesmo tempo que o resume também se apresenta como o quinto e último aspecto do
fruto...
5. Amor:
O amor é a
base de tudo o que vimos até aqui. É, de fato, a base de toda a caminhada
cristã. No conjunto de diálogos onde está inserido o nosso texto-base, por
várias vezes Jesus diz a seus discípulos que eles deveriam amar uns aos outros.
No final das contas, os discípulos de Cristo seriam conhecidos pelo amor, pela
comunhão que deveriam ter (João 13.35). Veja bem, não é por falar em novas línguas,
não é por curar enfermos, não é por grandes movimentos, ações milagrosas... é
por amarem-se uns aos outros.
O cristão
busca a Deus porque o ama, afinal, ainda no pecado, Deus o amou primeiro e isso
o constrange (1 João 4.19). O cristão se afasta do mal e obedece à voz do
Senhor porque o ama, e sabe que Deus quer o melhor para sua vida. O cristão tem
uma vida íntegra porque ama a Deus e não quer envergonhar Cristo diante da
opinião pública (Hebreus 6.6). O cristão evangeliza porque ama aqueles que ainda
não têm a salvação, ele serve a seus irmãos porque ama ao próximo da mesma
forma que Cristo o amou (João 13.34).
O amor é um
sentimento, entretanto é também uma escolha, ou não seria um mandamento.
Escolhemos amar a Deus, aos irmãos, àqueles que ainda estão afastados do
caminho de Deus e rumando à morte eterna. Neste contexto, é importante lembrar
que amar não é concordar com a conduta errada de alguém, de abonar as faltas,
mas é sim apontar a direção certa, alertar o indivíduo do destino terrível que o
aguarda se não abandonar o pecado. Mas é fazer isso, corrigir e exortar sem
arrogância, sem prepotência... é fazer com amor, com verdadeiro interesse pela
pessoa.
O amor é como
o sabor do fruto. Pode não ser percebido visivelmente, exteriormente. Mas está
lá. Tem que estar lá. É ele que dá sentido. Não adianta a frutinha ser bonita,
agradável, ter todas as características para que seja desejável se quando é
colocada na boca não tem sabor, ou tem sabor diferente daquele que seria
esperado. O cristão precisa ter o amor a fundamentar todas as suas ações, pois
sem amor nada do que faz tem valor, ou qualquer sentido (1 Coríntios 13.1-3).
Conclusão:
Então, falamos
sobre o fruto que expressa o verdadeiro Cristianismo, que se revela sob 5
aspectos: vida espiritual, que flui através de Deus para a vida do cristão;
santidade, que é o afastamento do cristão dos padrões e valores do mundo;
integridade, que tem a ver com a conduta
e as atitudes do crente na vida diária; serviço, que se refere à função do
cristão no Corpo de Cristo; e amor, que é a base para tudo o que o crente faz
ou deixa de fazer, é a base para o relacionamento dele com Deus e para com o
próximo.
Agora vamos
voltar um pouco para o texto original de João 15 e expandir a seleção até o
versículo 6. Podemos deduzir daí que há 3 diferentes tipos de ramos na
parábola: o que produz fruto, o que não produz fruto e aquele que está separado
da videira.
Não sei qual o
ponto da mensagem falou com você, mas pode ser que em algum momento você tenha
sentido Deus podando, limpando, fazendo você entender que algo precisa melhorar
no fruto. Seja na área espiritual, seja na santidade, na integridade, no
serviço, ou no próprio amor, algo precisa ser polido, ajustado. Você é um ramo
do tipo que já produz fruto, mas Deus quer te ajudar a melhorar, quer te ajudar
a produzir mais e melhor, a ser uma pessoa ainda mais parecida com o Mestre.
Pode ser também
que em algum momento da pregação você tenha se dado conta de que, de fato, o
fruto está faltando em sua vida. Neste caso, Deus está alertando você. Com amor
ele te chama para que você melhore seu relacionamento com ele. É necessário que
você busque mais a Deus, conheça ele melhor, estude mais a sua Palavra. É
preciso que você se aprofunde na vida espiritual para que o Espírito Santo
possa orientar você, para que você possa obedecer à direção do Espírito, e o fruto
possa ser produzido em sua vida.
Em último
caso, pode ser que a mensagem tenha chamado a sua atenção para o fato de que
você atualmente não está ligado a Deus em Jesus Cristo. Talvez você ainda não
tenha tido um encontro com Deus, talvez você ainda não tenha experimentado o
novo nascimento. Pode ser, também, que você já tenha tido experiências com
Deus, mas hoje se encontra afastado dos caminhos do Senhor. Se for esse o caso,
Deus está te chamando, está te convidando a se aproximar dele e aceitar a Jesus
como o seu Salvador. Ele te ama, ele quer o melhor para ti, ele quer produzir
em você um fruto que perdure para a vida eterna.
De qualquer
forma, seja qual for o caso, seja qual for o assunto que tenha tocado o teu
coração, venha aos pés do Senhor, que fala contigo. Coloque diante dele o teu
caso, pois ele te ama e quer te ajudar.