quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

O fruto do verdadeiro Cristianismo


por LUIZ ULISSES BENDER

Texto-base: João 15.1 e 2
1 "Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor.
2 Todo ramo que, estando em mim, não dá fruto, ele corta; e todo que dá fruto ele poda, para que dê mais fruto ainda."

Introdução:
Estamos diante de uma passagem bastante conhecida, pois se trata da parte de um texto bastante familiar à maioria dos cristãos; a parábola da videira verdadeira. Entretanto, apesar de ser tão comumente explorada, a passagem faz parte de um conjunto muito importante de discursos de Jesus, que se estende do capítulo 13 até o capítulo 17. São suas últimas palavras e instruções a seus discípulos, declaradas antes da crucificação, ao final da última ceia.
Bem, sei que muitos usam esse texto para falar sobre evangelismo, relacionando o fruto da videira à multiplicação dos crentes, a ganhar almas, a fazer discípulos. Contudo, não penso que era essa a intenção do Mestre ao proferir a parábola. Acredito que esse fruto é algo muito mais profundo do que simplesmente o resultado do evangelismo. O evangelismo faz parte, claro – como veremos ainda – mas o fruto aqui é realmente o resultado orgânico (natural) de uma pessoa que está ligada a Deus em Jesus; ou seja, o fruto é o sinal, a marca, o resultado do verdadeiro cristão. Toda árvore produz frutos de acordo com sua espécie. Pois o cristão genuíno, verdadeiro, também produz um fruto que, em última análise, evidencia e prova que ele é, de fato, um seguidor do Senhor Jesus Cristo.
Entendo que o fruto que prova que uma pessoa é um cristão verdadeiro se manifesta sob 5 aspectos: vida espiritual, santidade, integridade, serviço e amor. Vejamos cada um deles separadamente.

1. Vida espiritual:
A Bíblia nos mostra que antes de entregar sua vida a Cristo todos os cristãos estavam mortos em suas transgressões e pecados (Efésios 2.1), isto é, todos estavam desligados de Deus. Todavia, a partir do momento em que a pessoa aceita a Jesus como seu salvador, uma mudança ocorre. Acontece a regeneração, o novo nascimento. Agora o indivíduo não está mais desligado de Deus, não está mais afastado do Criador, não está mais morto espiritualmente. A vida espiritual flui até o espírito do cristão através da ação do Espírito Santo.
Se isso é verdade – e deve ser – o cristão não apenas tem o privilégio de conversar com o Pai, mas precisa também sentir a necessidade de ter contato com ele. O cristão precisa cultivar uma vida espiritual, com oração, leitura da Palavra, meditação. Precisa colocar aos pés de Cristo suas preocupações e ansiedades, confiando que ele fará o que for melhor. Precisa adorar ao Senhor, ser grato por aquilo que recebeu e, acima de tudo, ser agradecido pela salvação providenciada por Deus.
O cristão tem que ouvir a voz do Espírito, que é o seu guia durante a jornada nesta terra. O Espírito Santo é a garantia da herança do cristão (2 Coríntios 5.5), é ele quem produz no cristão o fruto do Espírito (sobre o qual falaremos mais tarde), é ele que muda a forma como o cristão percebe a vida, como organiza seus valores. É a ação dele na vida do crente que o leva a um processo, que é o próximo aspecto a tratar...

2. Santidade:
Santidade é um processo. Ela não ocorre de modo instantâneo na vida do convertido, como em um passe de mágica. O processo de santidade se inicia na conversão e segue com o cristão durante toda a sua vida. Jamais alguém poderá atingir a perfeição, porém a cada dia o Espírito pode revelar ao crente algo que precisa e deve melhorar em sua vida.
Mas o que é santidade? Quando olhamos para a Bíblia, vemos que tanto no AT quanto no NT o conceito de santidade está vinculado à ideia de exclusividade. Exclusividade no grupo, e exclusividade no serviço. Em outras palavras, algo ou alguém era separado, escolhido, dentre um grupo enorme de semelhantes para ser aquele que seria apto para o serviço e dedicado a Deus. Este algo/alguém, uma vez separado dos seus pares, seria também dedicado unicamente ao serviço a Deus, não podendo ser utilizado para outra coisa.
Trabalhando um pouco esse conceito, podemos chegar à conclusão de que a santidade, na vida do crente, se apresenta na forma de que ele se afasta das coisas que o mundo tem a oferecer. O cristão evita tudo aquilo que pode levá-lo a pecar, a desobedecer a Deus, ao mesmo tempo que se dedica ao Senhor, através de ações práticas, que veremos a seguir. Santidade é, portanto, afastar-se do mal (1 Pedro 3.11), é evitar doa a aparência (forma) de mal (1 Tessalonicenses 5.22), é ocupar sua mente com aquilo que é agradável ao Senhor (Filipenses 4.8).
O assunto fica sério quando vemos o quanto a Bíblia enfatiza a necessidade de santidade, pois sem ela ninguém verá a Deus (Hebreus 12.14). Uma ideia errada, no entanto, precisa ser combatida. Santidade não é se isolar do mundo, fundando uma comunidade no meio do deserto para viver o Cristianismo. Não. Também não é se achar melhor do que os pecadores. Tampouco. Santidade é estar no mundo, inserido nele, mas não pertencer a ele, não desejar as suas coisas (João 17.11-16; 1 João 2.15 e 16). O cristão habita no meio da sociedade corrupta, mas não compartilha seus valores, não se amolda à sua conduta, à sua forma de pensar. Pelo contrário, pois a santidade é produzida através da ação do Espírito Santo que renova a mente do cristão, lhe dando uma maneira totalmente nova de interpretar a vida (Romanos 12.2), o que leva o genuíno cristão a ter uma conduta diferenciada, que é o terceiro aspecto do fruto...

3. Integridade:
Sejamos sinceros: o cristão é conhecido por sua conduta. Estamos falando de um fruto, então vamos pensar em quando vamos ao mercado para comprar uma fruta qualquer. Ao nos depararmos com todas aquelas opções na bandeja, nós escolhemos o fruto que mais nos agrada. Seja pela forma, pela textura, pela cor, enfim... há algo que diferencia um dos elementos do grupo, e por isso pegamos ele da prateleira e colocamos no nosso carrinho de compras. Bem, a integridade do cristão é o elemento (ou o aspecto) determinante pelo qual as pessoas que ainda não conhecem Jesus irão nos avaliar, e comprar ou não aquilo que pregamos. A maneira que o cristão age no meio da sociedade tem que estar em harmonia com aquilo que ele crê e prega. Se há um descompasso, a mensagem e a fé do indivíduo são desacreditadas.
Quem leva o crente à maneira correta de viver é o Espírito Santo. É ele quem produz o fruto do Espírito (Gálatas 5.22 e 23), é ele quem muda a pessoa internamente. Mudando quem somos, muda o que fazemos. Mudando o que alguém pensa (algo interno, muitas vezes oculto), o Espírito produz uma mudança externa e visível, nas ações e comportamento diário.
A Bíblia é muito clara quando fala das atitudes esperadas de um cristão. Jesus diz que aquele que o ama obedece a seus mandamentos (João 14.15 e 21), Paulo, em carta aos Coríntios, afirma que os cristãos são os embaixadores de Cristo (2 Coríntios 5.20). Ora, o que é um embaixador a não ser um representante do Reino ao qual pertence? Ele vive de acordo com as leis do Reino de Deus, de acordo com a vontade de seu Rei, com integridade, e não de acordo com o padrão da sociedade que o cerca. Outros apóstolos também exploram o tema, como Tiago, que afirma que a fé sem obras é morta, inútil (Tiago 2.17). O que são estas obras? São ações tomadas de acordo com aquilo que o cristão acredita. Harmonia entre crer, pregar e fazer.
Vivemos em uma geração onde muitos se dizem cristãos, mas negam o efeito de suas declarações. Colocam faixas “100% Jesus” e usam camisetas “gospel”, mas em sua conduta envergonham àquele que chamam “Senhor”. Há muito mais membros de nossas igrejas do que gostaríamos que são conhecidos no meio da sociedade como maus pagadores, pessoas que consomem pirataria, indivíduos que tem a tal da Skygato, etc. E os tais fazem essas coisas porque todo mundo faz. O problema é que o cristão não é “todo mundo”, pelo contrário. Está mais do que na hora do Cristianismo rever seus conceitos e voltar a ter uma vida pautada pela Bíblia. O verdadeiro cristão tem essa vida. Não uma vida de legalismo, de simples cumprimento de normas, porém uma vida que é voltada para honrar àquele que o salvou, onde não é mais ele próprio quem vive, mas sim Cristo, que vive nele e através dele (Gálatas 2.20) no meio de uma sociedade perversa e corrompida.
Contudo, é importante lembrar que a atitude do cristão não é apenas voltada ao mundo. As atitudes do verdadeiro e genuíno discípulo de Jesus são também compostas por ações práticas em favor do Reino, o que nos leva ao próximo aspecto...

4. Serviço:
Enquanto a santidade tem a ver com aquilo que o cristão não deve fazer e a integridade tem a ver com a conduta do cristão perante a sociedade, o aspecto do serviço no fruto do verdadeiro Cristianismo está relacionado com as ações que o crente deve ter em relação a seus irmãos na fé e ao Reino em si.
Sabemos que todo o cristão foi incluído na Grande Comissão de evangelizar o mundo (Mateus 28.19 e 20), bem como a todos os que creem foi dada a promessa de receber os dons do Espírito Santo, a capacidade de orar pelos enfermos e eles serem curados, a responsabilidade de anunciar o Evangelho e fazer discípulos (Marcos 16.15-18), etc. Contudo, o chamado de Deus ao cristão não se resume em mandados gerais e promessas genéricas. Por mais que isto tenha virado um chavão, ainda é verdade: Deus tem um propósito, um plano, na vida de cada crente. Nenhum cristão foi chamado para ser apenas um membro de banco.
Deus dá talentos aos homens. Deus distribui dons e ministérios à sua Igreja (Efésios 4.11). Alguns pregam com ousadia, outros administram a igreja, alguns socorrem os aflitos e carentes, outros contribuem financeiramente (Romanos 12.6), alguns servem às mesas – vide os diáconos de Atos 6.12 – e assim por diante... O corpo, que é a Igreja, cresce pela ação dos seus diversos membros (1 Coríntios 12), cada um fazendo sua parte para o bem do próximo, para o bem geral. Um ministrando ao outro, um edificando ao outro, em constante troca, em constante auxílio e em comunhão. A todos seus filhos Deus deu sementes que precisam ser semeadas para produzir uma Igreja saudável, para haver continuidade nos trabalhos, nos ministérios e no crescimento do Reino. A ação positiva, prática, interna é tão vital quanto qualquer outro aspecto do fruto. O cristão precisa estar à disposição do seu Senhor, seguindo o exemplo do próprio Mestre, que não veio para ser servido, mas para servir (Mateus 20.28). Todavia, todas essas três ações – santidade, integridade e serviço – do cristão têm um fundamento, uma característica que permeia todo o fruto do verdadeiro Cristianismo, que ao mesmo tempo que o resume também se apresenta como o quinto e último aspecto do fruto...

5. Amor:
O amor é a base de tudo o que vimos até aqui. É, de fato, a base de toda a caminhada cristã. No conjunto de diálogos onde está inserido o nosso texto-base, por várias vezes Jesus diz a seus discípulos que eles deveriam amar uns aos outros. No final das contas, os discípulos de Cristo seriam conhecidos pelo amor, pela comunhão que deveriam ter (João 13.35). Veja bem, não é por falar em novas línguas, não é por curar enfermos, não é por grandes movimentos, ações milagrosas... é por amarem-se uns aos outros.
O cristão busca a Deus porque o ama, afinal, ainda no pecado, Deus o amou primeiro e isso o constrange (1 João 4.19). O cristão se afasta do mal e obedece à voz do Senhor porque o ama, e sabe que Deus quer o melhor para sua vida. O cristão tem uma vida íntegra porque ama a Deus e não quer envergonhar Cristo diante da opinião pública (Hebreus 6.6). O cristão evangeliza porque ama aqueles que ainda não têm a salvação, ele serve a seus irmãos porque ama ao próximo da mesma forma que Cristo o amou (João 13.34).
O amor é um sentimento, entretanto é também uma escolha, ou não seria um mandamento. Escolhemos amar a Deus, aos irmãos, àqueles que ainda estão afastados do caminho de Deus e rumando à morte eterna. Neste contexto, é importante lembrar que amar não é concordar com a conduta errada de alguém, de abonar as faltas, mas é sim apontar a direção certa, alertar o indivíduo do destino terrível que o aguarda se não abandonar o pecado. Mas é fazer isso, corrigir e exortar sem arrogância, sem prepotência... é fazer com amor, com verdadeiro interesse pela pessoa.
O amor é como o sabor do fruto. Pode não ser percebido visivelmente, exteriormente. Mas está lá. Tem que estar lá. É ele que dá sentido. Não adianta a frutinha ser bonita, agradável, ter todas as características para que seja desejável se quando é colocada na boca não tem sabor, ou tem sabor diferente daquele que seria esperado. O cristão precisa ter o amor a fundamentar todas as suas ações, pois sem amor nada do que faz tem valor, ou qualquer sentido (1 Coríntios 13.1-3).

Conclusão:
Então, falamos sobre o fruto que expressa o verdadeiro Cristianismo, que se revela sob 5 aspectos: vida espiritual, que flui através de Deus para a vida do cristão; santidade, que é o afastamento do cristão dos padrões e valores do mundo; integridade, que tem a ver com  a conduta e as atitudes do crente na vida diária; serviço, que se refere à função do cristão no Corpo de Cristo; e amor, que é a base para tudo o que o crente faz ou deixa de fazer, é a base para o relacionamento dele com Deus e para com o próximo.
Agora vamos voltar um pouco para o texto original de João 15 e expandir a seleção até o versículo 6. Podemos deduzir daí que há 3 diferentes tipos de ramos na parábola: o que produz fruto, o que não produz fruto e aquele que está separado da videira.
Não sei qual o ponto da mensagem falou com você, mas pode ser que em algum momento você tenha sentido Deus podando, limpando, fazendo você entender que algo precisa melhorar no fruto. Seja na área espiritual, seja na santidade, na integridade, no serviço, ou no próprio amor, algo precisa ser polido, ajustado. Você é um ramo do tipo que já produz fruto, mas Deus quer te ajudar a melhorar, quer te ajudar a produzir mais e melhor, a ser uma pessoa ainda mais parecida com o Mestre.
Pode ser também que em algum momento da pregação você tenha se dado conta de que, de fato, o fruto está faltando em sua vida. Neste caso, Deus está alertando você. Com amor ele te chama para que você melhore seu relacionamento com ele. É necessário que você busque mais a Deus, conheça ele melhor, estude mais a sua Palavra. É preciso que você se aprofunde na vida espiritual para que o Espírito Santo possa orientar você, para que você possa obedecer à direção do Espírito, e o fruto possa ser produzido em sua vida.
Em último caso, pode ser que a mensagem tenha chamado a sua atenção para o fato de que você atualmente não está ligado a Deus em Jesus Cristo. Talvez você ainda não tenha tido um encontro com Deus, talvez você ainda não tenha experimentado o novo nascimento. Pode ser, também, que você já tenha tido experiências com Deus, mas hoje se encontra afastado dos caminhos do Senhor. Se for esse o caso, Deus está te chamando, está te convidando a se aproximar dele e aceitar a Jesus como o seu Salvador. Ele te ama, ele quer o melhor para ti, ele quer produzir em você um fruto que perdure para a vida eterna.
De qualquer forma, seja qual for o caso, seja qual for o assunto que tenha tocado o teu coração, venha aos pés do Senhor, que fala contigo. Coloque diante dele o teu caso, pois ele te ama e quer te ajudar.

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