segunda-feira, 1 de novembro de 2010

E a Dilma Ganhou...



Aliás, era dia das bruxas também. Mas enfim... Conforme as pesquisas já previam, a candidata petista à presidência conquistou a vitória e se torna a primeira presidenta (é, está correto, mulher é presidenta mesmo) do Brasil.

Mais uma vez os votos do Nordeste foram decisivos para a vitória governista. Se compararmos o mapa do bolsa-família e dos estados onde Dilma teve maioria esmagadora de votos, certamente não teremos surpresa. Mas mesmo na região sul a vantagem do candidato tucano foi muito pouca. Aqui no RS, certamente colaborou muito o fato do governador já eleito em primeiro turno ser do mesmo partido da concorrente à presidência.

Outro fator que contou muito foi que, apesar dos insistentes apelos na mídia (televisão, internet, jornais, etc) por parte de lideranças religiosas, para que o povo não votasse na defensora da ideologia comunista, o candidato do PSBD não conseguiu tampouco agregar estes votos de maneira total e eficiente.

Só que este fenômeno, a manifestação em massa da Igreja, nesta eleição merece uma análise um pouco mais detalhada.


Em primeiro lugar, creio que é importante frisar que, de modo prático, o conjunto religioso cristão da sociedade foi derrotado, uma vez que Dilma venceu a eleição presidencial. Sob este aspecto, dúvidas quanto ao posicionamento político da Igreja (principalmente através de seus líderes), pode ser questionado, mesmo no seio da própria comunidade.

Ora, se fosse verdadeiro o ditado “a voz do povo é a voz de Deus”, poderia se afirmar que o “povo de Deus” não anda ouvindo a voz do seu Senhor. Felizmente, sabemos que este ditado historicamente não expressa a verdade.

A segunda afirmação que muitas vezes é feita nesta hora diz respeito ao texto de Romanos 13:1. O que, afinal, entendemos neste versículo? Que Deus escolhe e institui as lideranças (inclusive governamentais e políticas), e utiliza o povo (dentro do contexto democrático) para que estas cheguem ao poder? É isto?

Não, não é isto. O texto se refere à autoridade, não à pessoa revestida da mesma. Quando Deus outorga ao homem o direito de governo, a organização política, social e mesmo a escolha dos seus representantes (em todos níveis, inclusive no poder executivo), ele automaticamente se torna aquele que ordena e estabelece a hierarquia dentro da qual o governo humano funciona.

Mais que isto, ele permite ao homem que, vivendo dentro deste sistema de autoridade, tome suas decisões. E que estas autoridades sejam para o bem moral, social e até espiritual da sociedade. Mas veja bem, no sistema democrático, quem escolhe é próprio povo, através do voto. E Deus respeita a decisão do povo. A pessoa se encaixa então dentro da vontade de Deus. Não a perfeita, mas a permissível. Afinal, de que outro modo podemos explicar Hitler e Stalin? Alguém em sã consciência diria que foram pessoas escolhidas por Deus para liderarem nações? À destruição?

Dentro deste contexto entendemos que a comunidade cristão não se desviou do que Deus planejou, pelo contrário. De uma forma singular na história deste país, a Igreja se expressou de modo direto e claro, através das urnas, dando um recado a todos os políticos do país.

Neste ínterim, podemos abordar a questão de duas formas. A primeira, de forma positiva, pode parecer a conclusão mais óbvia.

Me parece que o povo cristão deste país finalmente começa a despertar para seu papel político (o que me deixa muito feliz, veja porque no artigo Avivamento Político), sobre a necessidade de reafirmar suas posições, defender seus princípios, seu espaço, e até encontrar possibilidades novas dentro do cenário atual.

Assim, embora a Igreja não tenha se levantado “como um só homem”, desde o Oiapoque até o Chuí, demonstrou que não somos mais um “curral eleitoral” facilmente manipulado, enganado e usado em épocas de eleições, para depois ser menosprezado, diminuído e considerado como de “segunda classe” dentro das prioridades dos políticos eleitos.

Nosso ponto de vista e os princípios que defendemos não podem simplesmente ser ignorados. Não mais. Porque neste processo eleitoral demonstramos que temos força para eleger, ou evitar alguém de ser eleito, caso realmente nos esforcemos para tal, e (é claro) se tivermos motivos concretos para querer isto.

Assim, todas as políticas e leis a ser aprovadas não podem desconsiderar o que uma boa parcela da sociedade, o povo que professa a fé em Deus e em seu filho Jesus, vai pensar a respeito.

Claro que isto é altamente positivo, mas aí, aí mesmo, é que também reside o perigo. É a segunda abordagem que proponho. Uma abordagem de caráter negativo. Veja bem, não quero contradizer o meu ponto de vista a respeito da política, mas apenas alertar para o que esta manifestação das urnas pode provocar em relação a nós, como membros da sociedade.

Embora acredite que os sinais indicam que já não sejamos facilmente minipuláveis, isto não significa que não sejamos. Sabemos que há, mesmo entre nós, muitas pessoas mal-intencionadas. Dispostas a usar de todos artifícios para seus próprios objetivos mesquinhos e malignos. São lobos em pele de cordeiros, são cristãos ocasionais, ou que utilizam uma denominação como lhes convém.

Para estes, caso souberem como, e conseguirem, manipular a massa de cristãos, terão a sua disposição uma fantástica máquina eleitoral. Afinal, não é possível saber até que ponto cada um dos eleitores cristãos consegue ter uma consciência própria ainda.

Além disto, há o fato de que a candidata petista será nossa próxima presidenta. Tratada como o inimigo encarnado por alguns setores durante a campanha eleitoral, torna-se uma incógnita a maneira como irá reagir agora que estiver no poder. Pode ceder a reivindicações, a fim de promover medidas eleitoreiras (com vistas no futuro), ou pode continuar e acentuar a perseguição velada que já foi iniciada pela administração em curso, vingando-se da humilhação sofrida.

De uma forma ou de outra, teremos que respeitá-la, uma vez que é isto que o texto de Romanos 13 nos instrui. E quem sabe os rumos deste país melhorem depois desta eleição, depois desta clara manifestação de protesto do povo cristão? Vamos esperar que sim.

Abraço a todos.

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