terça-feira, 22 de maio de 2012

Levar a Cruz

Vivemos em uma época cheia de facilidades. Somos uma geração acostumada a termos como "descartável", "instantâneo" e "automático". Na verdade, por vezes acreditamos que tudo que nos cerca tem estas características.

O problema em sí não está em gostarmos do que é assim. Eu também prefiro tomar café instantâneo, vejo a praticidade e a higiene de termos copos descartáveis no bebedouro do meu hambiente de trabalho, e gosto dos equipamentos que, de forma automática e programada, resolvem as questões sem que eu precise intervir no processo, dando muitas instruções ou operando manualmente.

A questão realmente se torna preocupante quando transferimos esta nossa percepção de mundo, de como lidar com objetos materiais, ao nosso universo de relacionamentos interpessoais. Tornamos, então, as pessoas descartáveis. Queremos resultados instantâneos, e esperamos conquistar coisas sem esforço.

Não fosse isto já ser ruim o suficiente, muitas vezes vemos pessoas (se não nós mesmos) aplicar este modo de relacionamento a Deus, querendo também que Ele responda instantaneamente, que resolva automaticamente todas questões que temos (incluindo todos problemas que nós mesmos arrumamos) e descartando-o depois de tê-lo "usado".

Em suma, não queremos compromisso, não queremos uma contarpartida de esforço de nossa parte. E se Deus não nos responde adequadamente, conforme nossa expectativa, Ele já não nos serve.

Mas puxa! Se Deus fosse algo descartável, instantâneo e automático, não seria Deus!! Seria um produto vendido no mercado, no shopping, e não anunciado pela Igreja.

Em Marcos 8:34 lemos que Jesus fez o seguinte: " E chamando a si a multidão, com os seus discípulos, disse-lhes: Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz, e siga-me."

O que Ele quis dizer? Ora, que para sermos cristãos é necessário esforço! Compare com Mateus 11:12 para ver...

Assim, Jesus disse que temos que carregar nossa própria cruz, seguindo o exemplo dele próprio. Mas o que é levar a própria cruz? Seria termos uma vida de sofrimento (como muitas vezes o imaginário popular nos faz crer) e severas privações? Não exatamente.

Levar a própria cruz significa suportar a vergonha de ser diferente (veja Marcos 34:38), de viver um padrão moral e ético diferente e superior ao que o mundo vive. Isso significa que muitas vezes seremos taxados de antiquados, atrasados, quadrados, ortodoxos, fundamentalistas.

Significa que muitas pessoas vão rir da nossa cara dizendo que somos uns bobos, bobalhões, por não aproveitar algumas oportunidades (de pecar) e que nos ridicularizarão porque não compartilhamos dos mesmos valores que eles, mas temos os valores do Reino como padrão de vida.

Levar a própria cruz significa suportar o peso do que acredita. Nossa fé é constantemente confrontada.

Ou vai dizer que vocês nunca ouviram coisas do tipo: "Onde está Deus, que deixa tal e tal coisa acontecer? Mas vocês não dizem que Deus cura? Então porque fulano está deste jeito? Cadê a bênção de Deus que tu dizes que há na tua vida agora, que tu estás passando por isto? Vai lá dar dinheiro pro pastor de novo? Isto é tudo pilantra! Acredita mesmo que uma mula falou com um profeta? Que criação que nada! Todo mundo sabe que o homem evoluiu do macaco!! A bíblia é só mais um livro de mitologia qualquer!"

Ora, por que acreditamos em Deus e em sua Palavra? Por fé. Pode haver provas suficientes nas mais diversas áreas do conhecimento humano. Mas o que nos move é a fé. O que nos faz crer é que temos fé. O fundamento sobre o qual construímos todo o resto em termos de vida espiritual.

Levar a própria cruz é uma caminhada, que tem um objetivo. Quando olhamos para o exemplo de Cristo, vemos que ele suportou a vergonha de levar a cruz (quem fazia isto era tido como marginal, um pária da sociedade); que ele suportou o peso da cruz que carregava (até precisou de ajuda, por causa de tantos ferimentos que lhe causaram); mas ele estava levando ela para um lugar, a fim de ser crucificado.

Este também é nosso alvo. Ser crucificado com Cristo.

Aí entra a parte do "negue-se a sí mesmo", não como forma de tolher nossa individualidade, nos anular, nos levar à omissão, nos enclausurando em nós mesmos ou à margem da sociedade... Mas no sentido de que venhamos a morrer para o mundo, seus desejos, valores.

No sentido de permitir a Deus que, através da ação do Espírito Santo, venha a nos dar uma nova maneira de raciocinar e interpretar o mundo(leia Romanos 12:2), um novo caráter, uma vida totalmente nova, sendo uma pessoa que em suas atitudes, reações e modo de pensar já não é mais aquela que era antes de conhecer a Cristo.

A cruz sempre vai nos falar de renúncia. Mas a renúncia, que a princípio parece ser ruim, porque nos leva a abrir mão de algo, no final não tem gosto amargo, e sim doce. Afinal, é abrindo mão de algo que fico com a mão aberta para receber uma coisa nova (veja Marcos 10:28-30).

Jesus abriu mão de sua divindade, abriu mão de seu direito, abriu mão de sua vida na cruz... Para ganhar a Igreja. Esta multidão que inclui (espero sinceramente) você e eu. Nós que não teríamos esperança sem que Ele tivesse renunciado muita coisa (acredito que é quem mais teve que renunciar em toda História). Leia Filipenses 2:5-11!!

Mas está valendo à pena até hoje. Sempre que Deus nos pede para renunciar algo, é porque vai valer à pena.

A cruz nos fala de sacrifício. Assim como Deus sacrificou seu único Filho na cruz, ela sempre nos lembra que devemos dar o melhor para Deus. O melhor e integralmente. Todo nosso ser, vontades, sonhos, desejos... Que entreguemos eles todos a Deus, que possamos dar o melhor (e tudo) de nós para Ele.

A cruz nos fala de obediência. Obediência que Cristo demonstrou ao se submeter à vontade do Pai e permitir aos homens que o crucificassem. Obediência que é o que Deus espera de nós, afinal Sua vontade para nossa vida é sempre "boa, perfeita e agradável", conforme Romanos 12:2.

A cruz nos fala de arrependimento, ou seja, mudança de rumo. Assim como ela divide a história da humanidade em dois períodos, que também possa dividir nossa própria história, entre antes de conhecermos a Cristo e depois de termos um encontro com Ele.

Arrependimento é mudança de rumo. Conversão é mudança de direção. Não existe cristianismo sem isto. A vida, depois da cruz, tem que ser diferente. Ou não houve de fato um posicionamento do indivíduo perante Deus.

Por fim, a cruz nos fala de amor. Foi o amor de Deus por nós que possibilitou acontecer a crucificação.

Sabe, quando amamos alguém as coisas que temos que fazer parecem menos difíceis. Não quer dizer que não são difíceis, duras, amargas. Tenho certeza que foi muito doloroso para Deus, o Pai, ver Jesus pendurado na cruz; foi muito difícil para o Filho, sabendo o que passaria, ir até o fim.

Mas o amor nos move, nos compele a ir em frente, fazer o que for necessário, para que possamos agradar, estar junto da pessoa amada. E neste caso, quão grande é o amor de Deus pela humanidade!!!!!

Se realmente decidimos amar a Deus, desenvolvendo este sentimento, carregar a própria cruz, com tudo que ela implica e representa já não se torna mais uma tarefa tão árdua, tão de outro mundo, sobrehumana. Torna-se sim algo possível, palpável, realizável. Inclusive temos vontade e nos agradamos de servir a Deus.

E a cruz é algo vital e necessário para nossa vida. Temos que todos passar por ela. Temos que ter este marco na nossa existência. Tenho a consciência (e acredito que todos deveriam ter) de que ninguém precisa mais de Deus do que eu. E nem menos.

É só através do sacrifício vicário de Jesus que temos a possibilidade de vida eterna, somos religados com (e justificados diante de) Deus, é através disto que recebemos um "upgrade" na nossa vida e passamos a ter uma existência mais feliz e em paz.

Muitas pessoas querem as bênçãos de Deus, querem aquilo que Ele pode proporcionar, mas não querem levar sua própria cruz, não querem seguir a Cristo, não querem um relacionamento mais íntimo, um compromisso com o Criador.

Ledo engano. Não alcançamos o que Deus tem a oferecer sem antes passar pela cruz. Deus não pode ser usado de modo automático, instantâneo... E descartável.

Ele quer relacionamento com o ser humano, e é sobre este relacionamento que Ele vai reconstruir nossa história, nos dando tudo o que precisamos para uma vida nova neste mundo; e uma vida eterna com Ele.

Para finalizar, deixo este vídeo. Uma canção tremendamente inspirada (há canções, e há canções inspiradas mesmo por Deus) que fala ao coração, e que seja a nossa oração em relação ao assunto que termino de abordar.



Abraço a todos.

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