Segundo a Wikipedia, "ser marginalizado significa estar separado do resto da sociedade, forçado a ocupar as beiras ou as margens e a não estar no centro das coisas. Pessoas marginalizadas não são consideradas parte da sociedade."
Noto assim que o cristão (geralmente chamado de "crente") é por natureza um ser que vive à margem da sociedade. Sempre em desacordo com o sistema, torna-se uma peça que não encaixa, é ignorado em suas demandas enquanto possível, seu posicionamento é rotineiramente rotulado como fundamentalista ou ultrapassado e, em seu estereótipo é taxado de ignorante e pobre, sendo (não raras vezes) motivo de piada.
Mas até aí tudo bem. Afinal, Jesus mesmo disse que isto iria ser desta forma. E até quando isto não acontece, há que se ligar o sinal de atenção, porque algo pode estar errado.
O problema da marginalização, no meu ver, é quando este processo não ocorre (só) de fora pra dentro. Mas quando acontece dentro da instituição.
Estes tempos eu estava em um lugar e quando algumas pessoas chegaram tive a nítida impressão de que tinha algo escrito na minha testa! Algo que eu não conseguia ver, mas que pra eles estava lá.
Um rótulo. Com todas informações de composição de conteúdo, prazo de validade, quantidade de calorias e até advertências do Ministério da Saúde!
O engraçado é que para um senti que eu tinha um rótulo tipo... "fanático", enquanto pra outro devia ser algo como "rebelde" (como não consigo ver o que é, posso apenas imaginar o que esteja escrito pelas reações).
Ora, na minha longa caminhada cristã eu tenho tentado sempre buscar o equilíbrio entre a submissão, o respeito pelas autoridades constituídas por Deus e a minha forma pessoal de pensar, minha identidade.
Não sou ingênuo a ponto de acreditar que tenho acertado cem por cento, que nunca tenha errado em um ou outro extremo... mas tenho tentado pautar meu crescimento espiritual com um balanceamento sadio entre ambos com o fim de alcançar maturidade.
Afinal, maturidade deve rimar com equilíbrio (não a palavra em sí, mas seu significado, é evidente).
Acredito tanto no princípio bíblico da submissão como acredito também no princípio bíblico do livre arbítrio. Acredito que minha missão pessoal, quando exercida em submissão contribui para a missão geral da comunidade na qual me congrego.
Acredito que minha visão pessoal não é maior do que a visão geral, mas é única, e assim contribui com um novo ponto de vista para que o todo seja aperfeiçoado.
Não se trata nunca, portanto, de uma crítica por sí só; uma crítica pela crítica. Porém de uma visão crítica, que enaltece virtudes e aponta deficiências (por favor, não leia "defeitos") com a intenção de fazer brotar novas soluções.
Só que, para uns, participar de algo, acreditar e vestir a camiseta, apesar de ver as deficiências é "fanatismo". Para outros, apontar estes problemas e divergir em pontos de vista é "rebeldia".
Outras tantas vezes, não somos medidos apenas por questões de interpretação. Contudo, soma-se a isto a questão de resultados quantitativos e palpáveis.
Pessoas olham umas às outras esquecendo que o corpo é composto por membros diferentes, de funções diferentes, que terão resultados diferentes, em áreas diferentes, de modos diferentes, através de ações e atitudes diferentes, que se multiplicam em números diferentes, com volumes diferentes, em lugares diferentes.
Obviamente esta variedade e a dinâmica dos diversos ministérios não pode ser medida através de parâmetros humanos...
Mas é isto que alguns ousam fazer.
Então não alcance as metas, e a marginalização bate à porta.
O engraçado é que neste caso as metas geralmente não foram estabelicidas pelo próprio membro do corpo, que, conhecedor de sua função, sabe o que pode e deve alcançar.
E aí temos outro grave erro, pois como a mão pode dar metas aos pés? Caminhamos com a mão? Evidente que não!! Então se a mão direita der metas à esquerda ainda terá um pequeno parâmetro, ainda que imperfeito (afinal, peça para um destro escrever com a mão esquerda), mas como terá parâmetros para ordenar objetivos aos pés?
Contudo, é assim que caminha a Igreja, com os olhares marginalizantes, vindos do que nos acostumamos a chamar de "mundo". E também dos nossos irmãos.
E toda vez me lembro dum texto que me marcou profundamente durante minha juventude. Cito um versículo de todo o contexto: Ezequiel 3:8 "Eis que fiz duro o teu rosto contra os seus rostos, e forte a tua fronte contra a sua fronte."
Às vezes tenho a nítida impressão que isto faz parte do meu ministério. É desgastante. É cansativo. Por vezes é desanimador, porque parece que aquilo que construímos ninguém vê.
Mas faz parte.
E assim continuo, e assim espero que vocês que eventualmente se identifiquem comigo, também continuem. Perseverem.
Sempre com os olhos no alvo. Naquele que está além da pessoa à nossa frente e consegue ver nossa testa. Aquele por quem vale à pena nosso esforço e para quem é todo o fruto do nosso trabalho.
A Ele seja a glória.
Abraço a todos.
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