quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Oktoberfest



Nesta sexta-feira inicia-se mais uma edição da Oktoberfest de Igrejinha. Entre este final de semana e o próximo, a organização do evento espera que algumas milhares de pessoas passem pelos portões do parque onde este se realiza.

A maior justificativa para a realização da festa é o retorno financeiro, de caráter beneficente, que é distribuído para o hospital do município e outras entidades, como a Apae, creches, escolas e Consepro por exemplo.

Por isto, toda vez que alguém manifesta seu desinteresse pelo (ou reprovação ao) evento, é logo criticado. Só que a pergunta que julgo pertinente nesta hora é: será que os fins justificam os meios?

Dentro disto, eu gostaria de compartilhar algumas impressões. Moro muito próximo ao local onde se realiza a festa. Tenho visto e percebido algumas coisas que quero relatar a vocês, leitores.



A alguns anos atrás, minha esposa e eu estávamos sentados em frente à nossa casa, esperando com isto evitar que algum desavisado estacionasse seu veículo na entrada da nossa garagem. Mas não adiantou. Um velho Opala parou exatamente no espaço em questão. Esperei o motorista descer para alertá-lo do fato. Bom, ele mal conseguiu sair do carro. O caroneiro quase teve que puxá-lo para fora, tão bêbado se encontrava.

Me pergunto, se uma pessoa vem para a festa desta maneira, como irá embora? Quem iria querer ser o filho de um homem desses? Ou esposa? Ou pai? Irmão? Quem iria querer ser o pedestre mais próximo de um motorista neste estado?

Será que alguém acredita que isto é um fato isolado? Qualquer pessoa em sã consciência sabe que não. Quantos motoristas embriagados dirigem seus carros pela cidade ou mesmo pela rodovia estadual depois de sair da Oktober, sendo um risco potencial para todos inocentes que atravessarem seu caminho?

No entanto, a polícia, como boa colaboradora, faz vista grossa.

Outra feita, depois do fechamento do parque, lá pelas cinco da madrugada, ouvi uma briga. Eram duas mulheres, pelo que pareceu, disputando o mesmo homem. Outro fato que não é isolado. Quantas famílias são desfeitas depois das aventuras na festa? Quantos relacionamentos rompidos, quantos casos de infidelidade...

De fato, durante o tempo do evento, um clima de “vale tudo” toma conta da cidade. O que durante todo ano é feito às escondidas subitamente parece ser a norma vigente. É feito às claras, senão de dia, mas na frente de todos.

Faz alguns anos, um vizinho quis fazer estacionamento no nosso pátio, que ainda não era cercado. Aceitamos, principalmente por causa da segurança que iria nos proporcionar. Pois de madrugada, um casal passou por ele e, ali mesmo no meio dos carros estacionados, no piso frio de um alicerce, quis consumar o ato!

Claro que não é todo mundo na cidade que age assim. Nem mesmo todos que vem de fora. Mas isto é um ícone. Mostra o quanto esta festa está muito longe de ser algo de família. Algo que possa passar um só valor positivo.

Acredito que se a renda é revertida para o hospital e outras instituições, não é feito mais do que a obrigação, tendo em vista a quantidade de partos que deverão ser realizados no futuro e de doenças venéreas que são transmitidas durante a festa.

Mas continuando... Um dia, ao sair de casa de manhã cedo por causa de um compromisso, passei por um grupo que havia vindo para a cidade de ônibus. No meio-fio, uma garota de uns quinze anos vomitava como uma condenada. Efeito colateral de ter bebido demais na noite passada.

Não quero abordar o nojo que é sair pela manhã pelas ruas próximas ao parque de eventos, mas sim refletir um pouco sobre a situação da moça.Ora, que pai cria uma filha para vê-la neste estado? A quantos passos tantos jovens que frequentam a festa, como ela, estão do alcoolismo? Como isto reflete na nossa sociedade e no futuro?

De uns anos pra cá uma turma, dessas de bagaceiros que aparecem durante a Oktober, tem montado seu QG próximo à minha residência. É triste ver jovens passar o dia todo bebendo, até cair.

Ademais, ainda há a questão da poluição sonora. Ultimamente, esta turma tem superado a própria festa neste quesito. E as músicas... Alguém algum dia prestou atenção nas letras? É isto que cantam que a sociedade deseja na sua vida, na vida de seus filhos, e pais?

O que mais me indigna em relação à barulheira é que se, por algum motivo, um evento gospel fosse realizado neste volume, ou fosse até tão tarde (por que não dizer cedo da manhã), isto se tornaria caso de polícia. Não faltaria um incomodado que protestasse e advogasse seus direitos de cidadão, exigindo o fim da atividade.

Mas... Como é a Oktober, ninguém dá bola. E a polícia, sempre como boa colaboradora, mais uma vez não faz nada.

Eu poderia continuar citando e analisando tantos outros casos, coisas que eu vi, como quando cheguei em casa e tinha um ônibus estacionado na entrada da minha garagem e o motorista do mesmo usando água da torneira do meu quintal, ou de rapazes usando drogas na esquina da quadra onde moro, ou da vez em que encontramos um rádio roubado jogado no nosso pátio, ou de todos (não um, nem dois, nem três) que vi urinando nos muros (meu e dos vizinhos) da minha rua, etc e tal.

Mas creio que já fiz entender meu ponto. Esta festa atrai pessoas de caráter muito duvidoso. E outras que normalmente até tem bom caráter, mas que durante os dias de festa “tiram uma folga” e partem pra libertinagem e pra bebedeira.

Assim, vamos convir que a beneficência do evento é só uma desculpa para realizá-lo. O que importa mesmo para o público é a festa em si, os shows, o baile, o consumo de bebidas alcoólicas e, é claro, a possibilidade de arrumar um par. Ou vários pares.

Tudo isto ainda sem contar o peso espiritual que um evento desses traz para nossa cidade. Sim, desconsiderar o mundo espiritual é de uma ignorância muito grande.

Tendo em vista todos estes fatos que citei, o que acontece na festa, o clima que toma conta da cidade, respondam: que tipo de espíritos podemos associar à Oktober? Sensualidade, fornicação, adultério, cobiça, mentira, engano, bebedeiras... Alguma pista?Ora, certamente não é o Espírito Santo. Pode-se tentar justificar a festa de muitas formas, mas de uma coisa ninguém duvida: Deus não está lá. Mas outro deve estar...

Enquanto a Oktober durar, certamente muitas instituições serão financeiramente beneficiadas. Mas analisando tudo isto, concluo que os fins não justificam os meios. O custo social é muito maior que o retorno social. O custo espiritual não compensa o retorno econômico.

Depois de passados os dias de festa, o que resta? Resta a gente continuar nosso trabalho para beneficiar a instituição que não só não é beneficiada pelo evento, mas é também a mais prejudicada. A instituição chamada família. É nela que investimos, é ela que procuramos consertar.

E seguimos em frente, esperando que no próximo ano menos pessoas tenham suas vidas afetadas negativamente pela Oktoberfest.

Abraço a todos.

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