segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Brasil, o País dos Tiriricas


O Brasil inicia a semana já conhecendo o resultado das eleições de ontem. Os representantes do povo, eleitos democraticamente, têm seus nomes divulgados. Alegria de um lado, tristeza de outro. A política é assim.

Entretanto um eleito chama mais atenção do que todos outros. O fenômeno eleitoral que atende pela alcunha de Tiririca. O humorista, respaldado pelo voto de 1.353.820 pessoas, se tornou o candidato a deputado federal com maior número de votos recebidos.

Um indivíduo cuja candidatura deveria ter sido indeferida pelo tribunal eleitoral, uma vez que ele próprio se declarava até pouco tempo analfabeto, e, como todos devem saber, segundo nossa legislação um analfabeto não pode candidatar-se.

Que análise podemos fazer deste fato? O que faz alguém votar em um candidatos como o Tiririca, cujo único projeto é se eleger para (supostamente) depois contar ao povo o que faz um deputado federal?

 Acredito que este fenômeno pode ser explicado a partir da identificação do povo com ele.

Um povo que não valoriza a educação, a escolaridade, se identifica com um candidato como o Tiririca. Um povo que não avalia propostas e projetos (seja do candidato ou do partido) também, afinal, ele nem projeto tem mesmo.

Quando o povo tem baixa autoestima ou não se importa em parecer ridículo, nada mais correto que votar em alguém que vive pela filosofia do “quanto pior, mais ignorante e mais feio, melhor”.  Quando o povo não leva a sério o seu direito ao voto, o próprio processo eleitoral, a democracia em si e seu direito à representatividade, considerando toda a política uma piada... Bem, nada melhor que votar em um palhaço.

E se uma pessoa, como boa parte dos brasileiros, chega até a última hora sem nem ao menos saber quem são os candidatos e a que cargo estão concorrendo, nada melhor do que votar naquele sujeito que aparece na mídia.

Este por si só já é um fenômeno à parte. O fato de alguém “entrar na nossa casa” todo o dia através da televisão, não significa que seja uma pessoa conhecida. Menos ainda que nos conheça! Mas o brasileiro acredita que sim.

Veja, proporcionalmente, Tiririca foi superado aqui no Rio Grande do Sul pela votação de Manuela D’Avila. A moça, apesar da “modesta” contagem de 482.590 votos, obteve apoio de 8,06% do eleitorado, enquanto Tiririca conquistou 6,35% do eleitorado paulista.

A que se explica isto? Uma carinha bonita, uma atitude simpática, uma propaganda que exalta a “renovação”. Alô! Alguém parou para olhar de que partido ela é? PC do B! Partido Comunista do Brasil. Se este fato, por si só, não é o suficiente para nos deixar pasmos, façamos o exercício de tentar colocar “comunismo” e “renovação” juntos em uma frase sem parecermos utópicos ou hipócritas.

Outro dado interessante para nossas considerações é a eleição de Ana Amélia para o senado, sendo a segunda candidata mais votada do estado. Alguém que jamais havia se envolvido em um pleito anteriormente. Quem votou nela pode realmente saber no que ela acredita e defende? Ou terá votado apenas porque fazia parte do quadro jornalístico da RBS?

Mas voltando ao assunto, o que dizer do Tiririca? Ora, para um país onde o nível de idiotismo é direta e proporcionalmente igual ao nível de sucesso (em qualquer campo das artes, música, televisão, humor...), realmente não surpreende o seu desempenho eleitoral.

Vivemos, de fato, em um país de Tiriricas. Se não fazemos parte do grupo de pessoas que pensam e agem (ao menos em época de eleição) da mesma forma como o personagem televisivo, então fazemos parte do grupo de pessoas que ficam tiriricas ao nos depararmos com esta situação.

O que me entristece é saber que nunca vamos melhorar nosso país enquanto esta linha de pensamento e comportamento predominar na nossa nação. Enquanto continuarmos a viver esta realidade, a melhor saída para o Brasil continuará sendo o aeroporto. Afinal, quem gosta de viver em um país cheio de Tiriricas, sendo representado e governado por outros Tiriricas?

Abraço a todos.

2 comentários:

  1. Algo que lamento é o fato do Girardi não ter sido eleito. Apesar de uma expressiva votação, com mais de 27 mil votos, não foi suficiente para se eleger. Quem sabe daqui a 4 anos...

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  2. Com certeza, meu amigo, ele teria mais a acrescentar na Câmara do que o Tiririca...

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